sexta-feira, 26 de julho de 2013

DE AZARADO A VENCEDOR

De frente para a América, Cuca deixa para trás as derrotas mais doídas

Cuca de joelhos para saborear a felicidade por inteiro Foto: AP
Cuca de joelhos para saborear a felicidade por inteiro
Foto: AP
  • Dassler Marques
    Direto de Belo Horizonte
A Copa Libertadores ensinou Cuca a jamais dar as costas no futebol. Em 2004, ele não olhava para o gramado quando Jorge Agudelo surgiu impedido para eliminar o São Paulo da final daquela Libertadores. Aos 46min do segundo tempo, Cuca estava de costas e escolhia os cinco cobradores de uma disputa por pênaltis que jamais aconteceu contra o Once Caldas-COL. Ansiedade pura.
Senhor do destino, remédio implacável contra os erros tolos, a aflição e a inexperiência, o tempo ensinou Cuca, hoje com 50 anos. Por mais que estivesse desconfiado, cercado do medo de punhaladas, de demissões cotidianas para treinadores, ele não poderia mais dar as costas. Uma lição dolorosa que custou não só aquela final de 2004. Uma Copa Sul-Americana com o Fluminense, outra Libertadores com o Cruzeiro, uma Copa do Brasil com o Botafogo. Tantos grandes trabalhos pelo caminho.
Em Manizales: de costas, não viu o São Paulo ficar fora da final da Libertadores Foto: AFP
Em Manizales: de costas, não viu o São Paulo ficar fora da final da Libertadores
Foto: AFP
Mas aquela derrota, no dia em que ficou de costas, marcou fundo na alma de Cuca. “A gente perdeu faltando 1 minuto e 45 segundos! Um gol impedido e que, uma semana depois, vieram dizer que o cara estava dopado. Ah, bandido! Esse gol, vou te dizer: durmo com ele uma vez por semana. Foi difícil assimilar aquilo. Até hoje aquela derrota ainda me dói”, declarou àRevista Trivela em 2007.
Aquela derrota que ainda doía foi lembrada, consciente e inconscientemente, enquanto o Atlético-MG precisava de sua quarta virada consecutiva na Libertadores. Por isso, quando os pênaltis se desenharam contra Newell’s e Olimpia, o treinador ficou de joelhos. De frente para ver de forma cristalina todos os seus medos serem enterrados pelas mãos e os pés salvadores de Victor. Enfim, a primeira grande conquista de um cinquentenário no auge.
Era muito peso que deixava os ombros de Cuca naquele momento em que os deuses do futebol diziam sim. Que se dane sua ansiedade que faz morder os dedos quando os nervos se tornam insuportáveis, você merece. Cuca aceitou a descarga de adrenalina carregada por sua fé, por cada oração que fez nos últimos meses para que tivesse lucidez acima de tudo. Beijou a grama molhada do Mineirão, deixou seu peito tocar o chão. Era o dono da América.
Herpes de Juvenal e esposa preocupam Cuca antes da finalClique no link para iniciar o vídeo
Herpes de Juvenal e esposa preocupam Cuca antes da final
As marcas daquela conquista estavam no corpo protegido pela camisa de Nossa Senhora Aparecida. Na sexta-feira passada, com dois de desvantagem para tirar em Belo Horizonte, ele admitiu a pressão. “Estourou a herpes aqui na boca. O negócio aqui é stress, velho”, disse em entrevista coletiva. Estava acompanhado pela fé. Como todos os atleticanos, sempre acreditou.
“Vamos ganhar quarta. Fiz 50 anos nesse mês. Se Deus quiser, meu presente vai vir na quarta-feira. Sou o que mais sofre aqui. O Kalil está comigo, mas damos a vida por isso. Largo minha mulher, minhas filhas, quero fazer esse povo feliz. Quero ganhar isso. Tenho essa coisa que vocês falam, de ser azarado. Mas quero acabar com isso na quarta”.
Choro e aflição na primeira Libertadores Foto: AFP
Choro e aflição na primeira Libertadores
Foto: AFP
Cuca acabou com isso na quarta. É verdade que faltou certo equilíbrio, aquela frieza que define os momentos decisivos, e os primeiros 45 minutos foram de bolas para o alto e nada mais. Mas vencer assim, sem emoção, deixaria os atleticanos em tanto êxtase? Faria um retrato fiel de Cuca?
“É sofrer! Nada é fácil aqui”, disse naquele dia em que a herpes estourou. “Sofremos, mas tem outro sabor. A vitória no sofrimento é muito mais saborosa. Se acontecer na quarta, vou ser o homem mais feliz. Igual a todo atleticano”. Cuca hoje está de frente para os atleticanos. De costas para suas fraquezas. De peito aberto para as glórias.
Do sofrimento ao êxtase: veja reações da torcida do Atlético-MG

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